terça-feira, 21 de junho de 2011

Geraldão viajou...






Acordei mais cedo e peguei o Glauco na sala, lendo o meu diário escondido. Quis quebrar-lhe a cara, mas desisti: era impossível brigar com o Glauco. Tímido, espalhafatoso, sempre com seu violão, ficávamos os dois cantando “Cajuína” durante horas. 

Nós dois da roça, ali, naquela cidade enorme no apartamento do Henfil, nosso ídolo e irmão. Henfil que nos gozou uma semana por estarmos lendo os livros do Castañeda. Bobagens esotéricas, segundo ele. Tivemos nossa vingança: chegamos um dia da rua e flagramos Henfil lendo escondido Castañeda, de quem havia comprado todos os livros.
 



Glauco saiu do apartamento do Henfil. Depois saiu dos quadrinhos “Los Três Amigos” e saiu das drogas através do Santo Daime. Seu misticismo venceu o “lado negro da força” que fascinava “Los Três Amigos”. Seu desenho continuou sempre em movimento conseguindo o máximo de efeito com o mínimo de traços, seja na charge, no cartum ou nas tirinhas. Como Picasso, Glauco criou uma perspectiva e uma anatomia própria. 

Fico triste com a morte tão estúpida desse meu amigo tão doce. Lembro os versos da “Cajuína”: “Existirmos, a que será que se destina...” Mas depois fico pensando e rio sozinho ao imaginar o reencontro de Glauco com Henfil lá no céu no mais puro estado de graça!

 

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